segunda-feira, 11 de outubro de 2010

' O Dia que Júpiter Encontrou Saturno '



- Você gosta de estrelas?
- Gosto. Você também?
- Também. Você está olhando a lua?
- Quase cheia. Em virgem.
- Amanhã
faz conjunção com Júpiter.
- Com Saturno também.
- Isso é bom?
- Eu não sei. Deve ser.
- É sim. Bom encontrar você.
- Também acho.


(Silêncio)



- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu.

(Silêncio)



- Sei muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda.
- Eu não sei nada.
- Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, faz tempo.
- Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo.
- Ninguém compreende.
- Às vezes sim. Eu te ensino



(Silêncio)

- Você é de aquário?
- Sou. E você, de libra?
- Sou. Eu sabia.
- Eu sabia também.
- Combinamos: ar.
- Sim. Combinamos.

(Silêncio)



- Vou te escrever carta e não mandar.
- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
- Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
- Vou ver Saturno e me lembrar de você.
- Daqui a vinte anos vão se encontrar.
- O tempo não existe.
- O tempo existe, sim, e devora.
- Vou procurar teu cheiro no corpo de outro homem. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
- Alecrim. Quando eu olhar a noite do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
- E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.

(Silêncio)


- Mas não seria natural.
- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
- Natural é encontrar. Natural é perder.
- Linhas paralelas se encontram no infinito.
- O infinito não acaba. O infinito é nunca.
- Ou sempre.



(Silêncio)

- Tudo isso é muito abstrato. Está tocando Kiss, Kiss, Kiss. Por que você não me convida para dormirmos juntos?
- Você quer dormir comigo?
- Não.
- Porque não é preciso?
- Porque não é preciso.

(Silêncio)

- Me beija.
- Te beijo.





- Caio Fernando Abreu -

By: Lari *-*


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